quinta-feira, 21 de abril de 2011

Caminhos de São Paulo 3

Houve um tempo em que estudava próximo da praça Coronel Fernando Prestes, onde está localizada a estação Tiradentes do Metrô. Ou melhor, um dos acessos da estação, pois esta encontra-se no subterrâneo, logo abaixo da Avenida Tiradentes. Tal proximidade fez com que a região do Bom Retiro se tornasse íntima, de certo modo, e despertasse o imaginário para detalhes históricos e curiosidades que cercam os arredores.
As duas saídas da estação Tiradentes dão para a avenida de mesmo nome, porém em sentidos contrários. Pegando a saída para o sentido centro-bairro da avenida já damos de cara com os muros em tom ocre do quartel das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, vulgo ROTA. Como curiosidade, é aqui que ficam aquartelados os integrantes do batalhão descritos no livro “Rota 66” do jornalista Caco Barcellos.

[Quartel da ROTA]

Já desde os tempos da ditadura até não muito tempo atrás, coisa de uns 12 anos (época em que estava no colégio e motivo de conhecer tão de perto esta região degradada pelo tempo e pelo descaso governamental), ficava um policial em cada guarita (sendo pelo menos duas, uma de cada lado do portão principal), fortificada com diminutas janelas à prova de balas e respiros suficientemente grandes para enfiar o cano da arma e atirar em quem quer que fosse, e duas viaturas armadas com metralhadoras no portão principal. Hoje fica apenas um policial em cada guarita e pronto, só para constar que estão lá.
É neste mesmo quartel que funciona a cavalaria da Polícia Militar paulista. Como o colégio não possuía uma quadra de esportes decente, nossas aulas de Educação Física eram feitas na quadra da ROTA. Fomos apresentados às instalações em nossa primeira aula por um soldado que, embora estivesse ali meio a contragosto, se mostrou bastante paciente. Conhecemos a estrebaria, cocheiras e forja. Em alguns momentos me senti como num castelo na Idade Média. Alguns métodos não evoluíram muito desde então, talvez por se mostrarem eficientes. Os cavalos são muito bem tratados, com direito a banho, escovação dos pelos e tem até uma piscina para exercícios semelhantes à nossa hidroginástica. Fico abismado como animais são melhor tratados do que humanos pelos próprios humanos. Mas enfim, voltando para o foco do artigo, infelizmente as instalações não são abertas à visitação civil. Originalmente o quartel era bem maior, mas devido à ampliação da cidade, uma parte dele precisou ser demolida para dar vida à avenida João Teodoro, ponto conhecido para aquisição de artigos militares, como uniformes, coturnos, boinas, coldres e todo tipo de acessórios. A torre de uma das fornalhas ainda se mantém ereta e solitária no canteiro central como memória àquela parte demolida.

[Av. Tiradentes vista sobre a Passarela das Noivas, em frente à Estação da Luz]

Deixando o quartel para trás e seguindo pela mesma avenida Tiradentes sentido centro-bairro, a aproximadamente 50 metros do Metrô nos deparamos com os muros brancos da Igreja e Mosteiro da Luz, onde funciona o Museu de Arte Sacra. Se você for amante de história como eu e, independentemente de sua religião, vale a pena conferir as peças do museu como curiosidade, algo que nos remete ao período Barroco.[O que restou do Presídio Tiradentes]

Voltando pelo mesmo caminho e aproveitando a passagem do Metrô para chegar ao outro lado, na praça Coronel Fernando Prestes, seguiremos pela Tiradentes agora no sentido bairro-centro em direção à Estação da Luz. A curiosidade deste trajeto fica por conta do arco de pedra presente no Banco do Brasil. Neste local havia um presídio feminino no início do século XX chamado de Presídio Tiradentes. O tal presídio foi demolido, restando apenas a arcada do portão principal como marco histórico.

Serviço:
* Igreja e Convento da Luz – Av. Tiradentes, 676 (0xx11-3326-9632 ou www.saofreigalvao.com.br)

[Continua]

Nenhum comentário:

Postar um comentário