quinta-feira, 11 de abril de 2013

A Odisséia dos Tomates


As aulas de quinta-feira eram terrivelmente chatas, mas mesmo assim minha irmã, de 10 anos de idade, insistiu muito para me acompanhar. O professor não tardou em começar a divagar sobre gêneros musicais e, tão logo terminou, já nos empurrou um documentário goela abaixo. Não havia passado nem 5min quando ela, morrendo de tédio, pediu que eu lhe contasse uma história.
O príncipe Tomate estava inconsolável na gôndola do sacolão por terem aprisionado a princesa na gaveta-masmorra do castelo geladeira, do outro lado do bairro dos gigantes. Sem saber como chegar até a princesa, o príncipe tomate apostou na sorte grande e saltou dentro da sacola do primeiro humano que passou ao lado dele.
Por ironia do destino, ou não, foi na sacola de nossa mãe onde ele caiu. Tão logo se pôs de pé, sentiu uma forte pancada de alguns tomates caindo sobre si. Ao recobrar a consciência reconheceu aqueles rostos vermelho arredondados: eram seus fiéis amigos e escudeiros, os tomateiros reais.
- O que estão fazendo aqui?, perguntou o príncipe.
- Não poderíamos deixá-lo resgatar sozinho a princesa tomatina – disse o mais gordo deles – afinal, esta terra de gigantes é muito perigosa.
- Não sei o que faria sem vocês, queridos amigos – disse o príncipe, tentando disfarçar o medo lancinante.
Os tomates esconderam-se no fundo da sacola e esperaram pacientemente a chegada em nossa casa para só então pensarem num plano de resgate.
A agonia era grande, mas mesmo assim fingiram-se de mortos enquanto eram todos lavados e posicionados lado a lado sobra a tábua de cortar carne. Alguns instantes depois era a vez da princesa tomatina ser lavada e posicionada ao lado deles.
O gigante-mor estava preparando o almoço da família quando a mãe chegou do sacolão e anunciou alegremente: “Teremos macarrão para o almoço de hoje!”, disse.
- O que faremos, meu príncipe? – perguntou um dos tomates.
Tarde demais! Todos foram colocados em água fervente para serem cozidos e feitos em molho.
- Nossa! Essa história me deu fome – disse minha irmã – vamos sair mais cedo pra comer algo antes de voltarmos para casa?
- Vamos nessa! Também estou com fome!
E fomos embora, felizes da vida, por finalmente deixarmos aquela aula chata para trás e por preenchermos nossos roncantes estômagos.