sábado, 20 de abril de 2013

Carandiru



Tem estado em voga na mídia nos últimos dias o julgamento dos policiais supostamente responsáveis pelo massacre ocorrido na Casa de Detenção (também conhecido como Carandiru) na tarde de sexta-feira, 2 de outubro de 1992.
Parafraseando uma amiga, “aos que são favoráveis ao extermínio humano ocorrido no Carandiru recomendo a leitura do livro ‘Estação Carandiru’, que (re)trata os detentos como gente e dá a dimensão de que, assim como haviam criminosos perigosos, também havia gente que procurava outro norte na vida”.
Pois bem, eu não li o livro sobre o Carandiru e, como era criança quando houve aquele rolo, lembro vagamente pelo que vi na tv. A princípio até pensava que bandido bom é bandido morto, mas antes de tomarmos as dores de um ou de outro lado é preciso focar na questão social.
A Constituição Federal garante direitos fundamentais individuais e coletivos e os direitos sociais, que o Estado tem OBRIGAÇÃO de fornecer, como habitação, saúde, educação, segurança, trabalho, entre outros, apenas para citar os de necessidades mais imediatas. O Estado não provê nada disso, pelo menos não com a qualidade mínima esperada e é natural que o cidadão se veja entre a cruz e a espada na hora de cometer algum delito. Claro que há os que agem por questões de desespero, por não terem nenhuma perspectiva de futuro digno, e os que agem pela maldade. 
Segundo Rousseau, “o homem nasce bom e a sociedade o transforma”. Eu diria que a sociedade o transforma em seu pior e se o indivíduo tivesse a oportunidade de crescer e se desenvolver até sua plenitude máxima ele não iria para o lado do crime.
Alguém pode pensar que defendo os criminosos por nunca ter sido vítima de nenhum deles. Eu já fui assaltado, sim, mas esse não é o foco do post. Não estou defendendo vagabundo nenhum, mesmo pq os detentos aprontaram alguma para estarem presos, mas também não anseio pela condenação dos policiais pq, acima de tudo, estavam cumprindo ordens, seja do comandante da operação, o finado Coronel Ubiratan Guimarães, seja do Governador, que na ocasião era o Fleury Filho.
Houve excesso na conduta policial? Sim, houve, mas é preciso apurar a responsabilidade de cada um. Era necessário invadir o Carandiru? Talvez fosse, mas volto a dizer, o comandante da operação está subordinado ao Governador e é ele quem dá a última palavra. Como assim, estava viajando e não sabia o que se passava? O Governador não sai de rolê por aí sem avisar pelo menos o vice ou seus assessores. E o Secretário de Segurança Pública, estava onde? Com o perdão da expressão, essa é uma manobra para tirar seus respectivos cus da reta para colocar no do cara que deu a cara a tapa.
No final das contas não podemos nos dar ao luxo de sermos tão céticos a ponto de querermos enjaular os caras que puxaram o gatilho quando eles não o fizeram sozinhos. O Estado, ao mesmo tempo em que tem obrigação de fornecer os direitos garantidos pela Constituição Federal também tem o poder-dever de manter a ordem e o faz pelo uso legitimado da força, mesmo que seja em última instância.
Caminhamos para o caos. De quem é a culpa? De todos nós, que preferimos nos entreter com Carnaval, Cerveja e Copa do Mundo a tomarmos uma atitude para mudar a realidade do nosso país.